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sábado, 2 de junho de 2012

Uma dor menos inconveniente.


E lá estava ele parado na frente daquele computador. Páginas e mais páginas de redes sociais abertas: Facebook, Twitter, Tumblr...todas de uma mesma pessoa. Seguia os passos do ex como um detetive seguia passos de um marido adúltero. Sabia de cada mínimo detalhe de sua vida. Com quem estava, com quem saia, o que dizia e até mesmo o que pensava. Seus dedos rolavam o mouse com uma dedicação espantosa. Horas e horas perdidas a procura de informações, segredos e fofocas. A vida daquela perfeita criatura era praticamente um livro aberto e ele adorava isso.
Desde o término fazia questão de se manter conectado ao ex. Já se passaram meses, acho que um ano na verdade,  e sua vida se resumia a isso. Era a única maneira que ele encontrava de se manter conectado, a única maneira de lembrar dos seus momentos juntos. Fotos e mais fotos eram passadas com alguns cliques, sempre juntos esbanjando sorrisos enormes em suas faces. Eram fotos de momentos felizes, momentos tristes, momentos de confissões...a vida deles juntos estava ali, guardada em uma pasta de computador. Anos de felicidade cabiam naquele ícone pequeninho que se misturava no meio de músicas, históricos de conversas e cartas. Cada detalhe daquela relação era mantida ali.
De repente, a primeira foto que eles tiraram juntos estava ali, naquela tela grande e de luz forte. Petrificado. Foi assim que ele ficou, sua cabeça naquele momento doia. Feito um furacão, cada lembrança girava em uma velocidade estrondosa, selvagemente rebatiam nas paredes do crânio com uma força enorme. Um sentimento estranho se remexia em sua barriga, feito um nó, a dor subia goela acima dificultando a respiração. Ele estava lindo, sempre sorrindo e de bem com a vida. Exibia aquela alegria que sempre contagiava todos ao redor. Aquele dia tinha sido incrível! O pediu em namoro naquela maquina de fotos. Eram tão felizes.
Lágrimas rolaram de seus olhos e escorriam pelas bochechas ensopando o teclado do computador. Sua visão já não era mais a mesma, estava borrada. Borrada de emoções, de sentimentos inacabados, de vontades reprimidas. 
Aos poucos cada lágrima saltava os olhos, revelando tudo que estava "escondido" dos outros, "escondido" de si mesmo. Os soluços, cada vez mais altos, só aumentavam. Em segundos sua sanidade desapareceu. Impulsivamente, abriu a gaveta da escrivaninha e retirou uma tesoura que ali estava. Com as mãos trêmulas ergueu a tesoura velha e enferrujada na altura do peito e com um movimento rápido acertou o peito, cravando a ponta da tesoura próximo ao coração. A dor foi inimaginável, mas era bem menos inconveniente que a de não tê-lo ali, ao seu lado. Sentiu o sangue encharcando a blusa branca de algodão. A vida, realmente, passou pela cabeça. Todas as memórias daquela relação preencheram sua mente, levando-o de volta aquele dia em que foi pedido em namoro na máquina de fotos. Ouvia a risada alta dele, sentia a respiração ofegante próximo ao ouvido enquanto o seu cheiro envolvia o ambiente. Em um susto seus lábios foram preenchidos pelos lábios carnudos dele e assim que o doce gosto da sua boca alcançou seus sentidos, foi levado de volta ao presente. O som do bate-papo do Facebook o acordou daquele delírio, seus olhos, instantaneamente fixaram-se na janelinha aberta e piscando. Lá estava, tanto tempo se passou a espera daquele momento, o ex falando com ele. A felicidade era repleta novamente e agora ele podia ir em paz. Fechou os olhos e esperou pelo último suspiro.

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